A vida real não é assim. O pequeno e frágil ser humano ao
nascer, se não tiver cuidado e supervisão de um adulto morrerá de fome. Depois,
ao crescer, estudamos – o que aprendemos é fruto do trabalho de outros que
partilharam. Até um simples banho significa que dependemos de outras pessoas –
que cuidam da água, da energia elétrica, etc. Ninguém está no topo dessa cadeia
de dependência, somos parte de um processo de dependência mútua.
Quando o apóstolo Paulo trata das invejas presentes na igreja de
Corinto ele percebe o foco errado daqueles crentes. Líderes não são
super-homens ou supermulheres. São apenas pessoas chamadas por Deus que fazem a
parte que lhes cabe. Líderes são servos e não devemos fazer ‘culto à
personalidade’ pois “nem o que planta e o que rega são alguma coisa, mas
unicamente Deus, que efetua o crescimento.”
Paulo tinha consciência de sua pequenez como ser humano. Sua
experiência em Atenas foi marcante neste sentido, pois ali diante da
incredulidade dos sábios (Atos 17.32,33) aprendeu a depender mais do poder de
Deus e menos das suas capacidades intelectuais. (1 Coríntios 2.1-5)
Mas esse ainda é um problema típico dos evangélicos de hoje: o complexo de Messias. A
psicologia define esse complexo como a ideia de que sozinho se pode mudar o
mundo. Desta forma o pastor ao liderar uma igreja, alimenta algumas ilusões de
que ele, sozinho, será a solução para aquele local. Ele, sozinho, vai evangelizar
uma cidade de 100 mil habitantes. Ele, sozinho, vai conseguir atingir a todas
as famílias, suprir todas as necessidades e fará um sucesso estrondoso. E
assim, nesse individualismo enganoso, o pastor se esquece de que ele é ‘uma
parte’ no processo de crescimento do Reino de Deus. Talvez ele esteja plantando
para que outro colha. Talvez colha, mas não pode esquecer-se daquele que com
dificuldade amoleceu a terra e plantou antes dele.
Para piorar, as igrejas, também alimentam tal expectativa em
relação ao pastor. Esperam uma espécie de Messias. Suas orações são
consideradas mais fortes, sua palavra inquestionável. Se os filhos estão
rebeldes, “chame o pastor”. Se os pequenos não obedecem, “ameace” usando a
pessoa do pastor. Aquele parente duro de coração que sempre resistiu ao
evangelho – não tem problema, leve o pastor para uma visita e responsabilize-o
para que visite semanalmente.
A consequência deste foco demasiado na pessoa do líder não tarda
em vir – para o pastor e para a igreja. O pastor logo se frustra, pois com o
tempo percebe que não é ‘aquilo tudo’ que imaginava. Apesar dos seus esforços o
campo não cresce como gostaria, as coisas não caminham como o desejado. E por
causa do complexo de Messias que alimenta, as dificuldades podem levá-lo a uma crise
ministerial ou existencial. Corações duros e insucesso fazem parte do
ministério – o pastor precisa estar consciente disso. (Isaías 6.9,10 – Mateus
13.1-9)
Por outro lado, a igreja que foca muito na pessoa do pastor como
‘solucionador geral’ não demora a procurar outro. Afinal, se buscam o
super-homem, nenhum pastor será bom o suficiente. Por isso algumas trocam
de pastor como quem troca de roupa e ao invés de compartilharem palavras de
edificação só sabem passar à frente fofocas e amarguras. (Efésios 4.29)
Igreja e pastor precisam se libertar desse conceito
individualista de super-herói ou super-pastor. Precisamos restaurar a ideia de
equipe, de grupo, de Corpo. (1 Coríntios 12.27). Um piloto de avião só consegue
exercer no céu sua responsabilidade de transportar com segurança centenas de
passageiros se houver em terra praticamente um exército de pessoas
ajudando.
Disso aprendemos que se uma igreja quer crescer, se desenvolver,
ela deve, juntamente com o seu pastor, se engajar no Reino de Deus. Se o sucesso
ocorrer, será fruto da ação de todos. Se o fracasso vier, a responsabilidade e
divisão de fardos serão de ambos os lados.
Tenhamos mais humildade e saibamos que somos apenas parte de um
processo. O resultado vem do nosso Pai. Chega de super-heróis, de
super-humanos, de super-pastores. Dependamos mais um dos outros e de Deus.
Artigo cristão escrito por Andrei de Almeida Barros
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